As artesãs Berenice Gomes de Deus (Dona Berê), 62 anos, e Clareci Maria Silva, 67 anos, são netas de Anastácia, criada por Hortência, que fundou o Quilombo Anastácia, na estrada da Estância Grande. Dona Berê faz sabão, sabonetes, sacolas ecológicas, namoradeiras e outros bonecos em gesso, toalhas de mesa, boneca de pano, tapetes de crochê e o que mais for solicitado.
“Eu aprendi a fazer artesanato olhando as outras mulheres fazerem. Aí chego em casa e tento fazer. E não é que dá certo?” Da primeira peça até hoje, já se passaram dez anos. “A necessidade ajuda a gente aprender a fazer as coisas”, conta. Ela dá uma dica para as panelas e a chapa do fogão à lenha ficarem reluzentes: “Não tem nada melhor do que arear com sabão de cinza!”
As sacolas ecológicas criativas, dona Berê aprendeu a fazer com as mulheres do Quilombo Peixoto dos Botinhas. “Eu olhei, medi com a palma das mãos, e fiz.” A sua prima-irmã, dona Clareci, escolheu a arte de tecer. Com as agulhas de tricô e lã, ela tece toucas, luvas, mantas e sapatinhos de bebê. Também faz bijouterias – pulseiras e colares.
Todas as quartas e sextas-feiras, as primas vêm para o Calçadão Tapir Rocha, no Centro. Ali, na Banca 07, além de exporem suas artes para venda, elas avivam a história de resistência da sua comunidade. São sete famílias que hoje moram no Quilombo.
“Minha bisavó Hortência criou minha vó Anastácia e ajudava os escravos a atravessar o rio para fugirem para o Quilombo Manoel Barbosa. Minha vó criou os filhos e os netos. Era parteira e lavadeira. Ela foi um símbolo de resistência para garantir que sua família tivesse um pedaço de terra. Meu avô, muitas vezes, trocou um pedaço de terra por uma mala de comida, para que pudéssemos sobreviver”, lembra Berê.
Na próxima semana, estaremos contando um pouco da história de outro artesão da cidade.