O trabalho é realizado no contraturno escolar e trabalha a individualidade do estudante e a sua socialização.
Há dois anos, Roberta Marques dos Santos frequenta diariamente as aulas na EMEF Humberto de Campos, na Sepé Tiarajú. Hoje, Roberta tem 8 anos, está no 3º ano e integrada na sala de aula e com seus colegas. A menina tem a Síndrome de Prader-Willi e sua mãe, Daniele Trindade Marques, teve muito receio em levá-la para a escola e até mesmo o Conselho Tutelar precisou intervir. Aos poucos a escola foi ganhando a confiança da mãe, que está aquietando seu coração vendo o desenvolvimento da sua filha. Tinha muito medo que ela fosse discriminada pela sua deficiência, que ela se machucasse e sofresse. Eu não estava preparada, mas ela estava e já no primeiro dia disse que eu podia ir. Ela sabe toda a sua rotina e está sempre disposta para vir para a escola. Já conhece as cores e está trabalhando a motricidade. O resultado é a felicidade estampada em seu rosto, ressalta.
A pedagoga e pós-graduada em Educação Inclusiva, Miriam Fraga, é a responsável pelo trabalho que vem sendo desenvolvido com Roberta, na Sala de Recursos Multifuncionais. Quando ela entrou na escola, começamos a trabalhar o afeto e a confiança. Hoje desenvolvemos muitas atividades com ela, como jogo da memória, onde desenvolvemos o raciocínio e a memória visual, ou o brincar de cozinhar, onde ela sabe a sequência dos processos de confecção dos alimentos, montagem da mesa, degustação e limpeza da louça. Estamos trabalhando a sua individualidade e a sua socialização, explica Miriam.
Rede
A inclusão de alunos com deficiência nas escolas da rede municipal de ensino, requer um trabalho em rede com a Secretaria da Saúde, Secretaria de Cidadania e Assistência Social e APAE. O trabalho é desenvolvido em conjunto com o professor regente, que também desenvolve atividades conforme as potencialidades e habilidades dos alunos, promovendo o aprendizado.
De acordo com a coordenadora do Núcleo de Políticas Inclusivas, Maria Helena dos Santos, todos os atendimentos são registrados e, ao final de cada trimestre, é feito um parecer evolutivo. Este trabalho de apoio à inclusão, garantido por lei e efetivado pelo trabalho pedagógico nas escolas, garante o acesso e a permanência do aluno, seu aprendizado, a elevação da autoestima, a sua autonomia e a inclusão no mercado de trabalho. Temos alunos de inclusão na Educação Infantil, no Ensino Fundamental e na EJA. Alguns, superadas suas dificuldades, também estão incluídos no mercado de trabalho.
O Núcleo de Políticas Inclusivas é composto por três assessoras pedagógicas e uma coordenadora, todas com formação em Educação Especial e que estão permanentemente atualizando-se para acompanhar o trabalho das professoras. Os atendimentos nas Salas de Recursos Multifuncionais e Laboratórios de Aprendizagem podem ser realizados individualmente ou em pequenos grupos, conforme a necessidade. Os professores que atuam na Sala de Recursos possuem formação específica na área de Educação Especial.
Dificuldade de aprendizagem
Em pequenos grupos ou em atendimento individual, a pedagoga, com Especialização em Neuropsicopedagogia, Aline dos Santos Fraga, trabalha no contraturno escolar da EMEF Jerônimo Porto, no Passo D'Areia, as matérias que os estudantes estão com dificuldade de aprendizagem. Aline realiza diversos exercícios até que a dificuldade sobre algum conteúdo seja superada. Os professores indicam os alunos que não estão conseguindo acompanhar suas aulas e eu trabalho essas dificuldades no Laboratório de Aprendizagem para que possam compreender e melhorar a nota, evitando uma reprovação, explica. Esta ação está sendo fundamental para a melhoria do ensino dos estudantes da região rural.
A mãe da estudante Aline Paraíba Viana, 12 anos, Terezinha Aparecida Paraíba, conta que sua filha está há um ano na Jerônimo Porto e que o trabalho que vem sendo desenvolvido pela neuropsicopedagoga, no Laboratório de Aprendizagem está contribuindo para seu aprendizado e desinibição. Aline é muito tímida e não gosta de ler. Vejo que agora ela treina muito a leitura em voz alta. Já a mãe de Ellem Gonçalves, 14 anos, Elizete Teixeira Martins, fala que por motivo de mudança de residência a garota não se adaptou a outra escola e acabou repetindo o ano. Outra mudança foi necessária e a família veio residir na zona rural de Viamão. Fomos muito bem acolhidas pela Jerônimo Porto e, depois que começou a participar das aulas no Laboratório de Aprendizagem, suas notas melhoraram e não repetiu mais de ano. Agora ela já está no 8º ano, comemora Elizete.
Material adaptado
Para que os alunos com deficiência possam compartilhar os ambientes escolares e sentirem-se integrados, a Secretaria Municipal de Educação também investiu na aquisição de equipamentos e material de trabalho. São mesas adaptadas, materiais didáticos específicos e pracinhas adaptadas para cadeira de rodas. O transporte escolar rural também é adaptado e, para este ano, foram adquiridos quatro ônibus através do Plano de Ações Articuladas, onde dois serão destinados à zona urbana e dois à rural. Esses ônibus são específicos para usuários de cadeiras de rodas. De acordo com a secretária de Educação, Maria Clarice de Oliveira, esta é a primeira vez que a Prefeitura faz tamanho investimento em transporte adequado para os alunos com deficiência. Os alunos que usam cadeiras de rodas, matriculados na rede municipal de ensino, hoje recebem o serviço de transporte em kombis. A previsão é de que os novos ônibus entrem em funcionamento na segunda quinzena de março.
Formatura e continuidade
Um momento muito especial para a equipe do Núcleo de Políticas Inclusivas foi a formatura da aluna Jéssica Teixeira Gomes, que completou o ensino fundamental na EMEF Castelo Branco, no Centro. Durante quatro anos, utilizou o transporte escolar do município. Mas, Jéssica não quis parar e sua sede de conhecimento a levou cursar o ensino médio. A aluna está matriculada no Colégio Estadual Júlio de Castilhos, em Porto Alegre, e a Secretaria Municipal de Educação fez um termo de empréstimo de uma classe adaptada a cadeirantes para ser usada por Jéssica na Escola Júlio de Castilhos, até que seja feita a compra pelo Estado.
Formação
A coordenadora do Núcleo de Políticas Inclusivas (NPI) conta que mensalmente são realizadas reuniões com os professores, onde ocorrem as formações e trocas de experiências. Neste sábado (28) foi realizado o primeiro encontro do ano com os 31 professores que trabalham em 24 Salas de Recursos e 16 Laboratórios de Aprendizagem, abrangendo o atendimento a 40 escolas e, aproximadamente, 800 alunos. Fizemos a apresentação do Núcleo aos professores que estão ingressando no programa, explicando qual a importância do trabalho das Salas de Recursos Multifuncionais e dos Laboratórios de Aprendizagem, fala Maria Helena.
atendem os alunos com dificuldades de aprendizagem, e que encontram-se em defasagem idade/ano, explica Maria Helena.
Saiba mais:
Sala de Recursos Multifuncionais: atende a alunos com deficiência incluídos na rede regular de ensino, com uso de recursos e metodologias próprias, de acordo com as suas especificidades.
Laboratório de Aprendizagem: atende alunos com defasagem idade/ano, que apresentam dificuldades acentuadas de aprendizagem. São utilizadas diversas técnicas e materiais de apoio para a compreensão do aluno.
Síndrome de Prader-Willi: é um distúrbio genético no qual sete genes do cromossomo 15 estão faltando ou não são expressados (deleção no braço longo do cromossomo 15) no cromossomo paterno. A incidência da síndrome é entre 1 em 12.000 e 1 em 15.000 nascimentos. A síndrome de Prader-Willi é caracterizada por pequena estatura e dificuldades de aprendizado e saciedade. A síndrome é diagnosticada através de exames genéticos, que são recomendados para recém-nascidos que apresentem hipotonia (diminuição do tônus muscular e da força).