Desde que começou seu trabalho na EMEF Cristiano Vieira da Silva, em Capão da Porteira, zona rural de Viamão, a professora de português, Cleia Quevedo, iniciou um projeto de leitura que denominou Cristiano Lê. Amante da literatura, Cleia começou a instigar o hábito nos seus alunos. Então, uma vez por semana, a professora iniciou levando uma caixa contendo alguns títulos. Propôs que cada aluno fizesse uma ficha de leitura e registrasse o título do livro que começou a ler, o autor, a data de início e término. Cleia fez o seu caderno também, com fichas de leituras de todos os alunos. A iniciativa não só deu certo, como contagiou também os outros professores, que procuram estimular o hábito de escrever.
O crescimento educacional dos alunos é visível em todas as disciplinas. Eles estão mais concentrados, aumentaram seus vocabulários e já colecionam fichas de leituras. Gosto de fazer intervenções de forma impessoal. Quando cruzo com eles pelos corredores, então converso sobre o que estão lendo e o que estão gostando ou se identificando com a obra ou com o autor. Deixo eles bem à vontade para escolherem o título. Agora já estamos no final do ano e muitos já leram 10 obras. Nesta semana eles contarão o livro que mais gostaram, fazendo uma propaganda da obra aos seus colegas, explica Cleia.
Quintanares
Quando soube da iniciativa da Câmara Rio-Grandense do Livro, projeto Quintanares, através de redes sociais, não pensou duas vezes e inscreveu o Cristiano Lê. O projeto premiava as escolas que se destacavam no incentivo à leitura. Pelo segundo ano consecutivo, a escola foi contemplada com um bônus no valor de 30,00 Quintanares (equivalente a R$ 30,00), para 37 alunos e três professores adquirirem obras de 130 autores. Desses 37 alunos, 15 já haviam sido contemplados com o cupom no ano passado. É o caso de Carla da Fonseca, 14 anos, aluna do 8º ano, que fez sua primeira visita à Capital no ano passado. Moradora da zona rural, Carla é uma garota que não sai muito de casa. Ela gosta de viajar mesmo é na leitura. Minha primeira viagem foi quando estava no pré. Eu adorava a hora da contação de histórias. Viajava para mundos encantados e vivia a história de cada personagem, relembra. De lá para cá sua paixão por livros só aumentou e Carla é uma aluna estudiosa e dedicada. Lê de tudo, mas sua preferência é por poesias, romances e contos.
Já Adrian Neumann, 14 anos, 8º ano, iniciou sua jornada na leitura provocado por uma amiga, que apostou que ele nunca iria conseguir ler a triologia do romance Saga Crepúsculo. Adrian não pensou duas vezes e aceitou o desafio. A partir daí ele tornou-se um devorador de livros. Estou fazendo minha própria biblioteca e já possuo 40 obras, todas lidas. Quando soube que seria selecionado, comecei a juntar dinheiro. Investi, além dos 30,00 Quintanares, R$ 155,00, e trouxe para casa nove obras, sendo uma delas em braile, destaca.
A mãe de Adrian é deficiente visual, mas nem por isso ele lê para ela. Faço melhor, compro livros em braile, pois ela adora ler, conta. A professora Cleia pede para que Adrian conte o conselho de vida de sua mãe. O garoto dá uma risada e revela, então, o ensinamento de sua mãe. Meu filho, nunca aceite nada de estranhos, mas se for um livro, pegue e saia correndo. Cleia conta que Adrian evoluiu muito após a imersão na literatura. Ele está mais concentrado, aumentou seu vocabulário e está conseguindo expressar todo seu potencial na escrita, completa. Por fim, Adrian revela sua mais nova descoberta. Serei escritor.
A assessora pedagógica da Secretaria de Educação, Cleo Sorgen, acompanhou a entrevista e revela que a EMEF Cristiano Vieira da Silva foi a única escola de Viamão a ganhar os Quintanares.